sábado, 27 de julho de 2013

Depenando o Gavião Negro

O Gavião Negro (Hawkman) é um dos personagens de história mais confusa no universo DC.  O próprio nome dado ao herói no Brasil inspira confusão, já que se trata de um homem branco usando um uniforme verde, vermelho e dourado.
É um personagem que, em sua longa história, passou por diversos ilustradores, mas ficou muito vinculado ao traço de Joe Kubert (1926-2012), um dos grandes ícones dos quadrinhos e responsável pelo visual da segunda versão do herói.

Originalmente criado por Gardner Fox e Dennis Neville durante a chamada "Era de Ouro" dos quadrinhos, o Gavião Negro apareceu pela primeira vez na revista Flash Comics #1, de janeiro de 1940. 
A trama começa quando o arqueólogo Carter Hall (por acaso, uma reencarnação do príncipe egípcio Khufu) descobre o “metal enésimo”: uma substância com propriedades extraordinárias, incluindo a anulação dos efeitos da gravidade.  Com esse material, Hall criou um par de asas que prendia às costas com correias.  Para completar o figurino, utilizou armas antigas do museu onde trabalhava e tornou-se um combatente do crime.  Acabou tornando-se presidente da Sociedade de Justiça e permaneceu em atividade até o lançamento de All Star Comics #57 (março de 1951). 

Cerca de dez anos depois, o personagem foi reciclado em The Brave and the Bold # 34 (fevereiro/março de 1961) por Gardner Fox (o roteirista original) e o mestre ilustrador Joe Kubert.  Agora, o Gavião Negro era o alienígena Katar Hol, uma espécie de policial do planeta Thanagar.  Seus poderes (para não dizer seu nome) eram bem parecidos com os de Carter Hall.  O extraterrestre veio para nosso planeta com sua esposa Shayera, perseguindo um criminoso espacial, e acabaram ficando por aqui.  Como se a história não estivesse confusa o sucifiente, Katar Hol decide mudar de nome para Carter Hall, e sua esposa adota o nome de Shiera Hall. 
Em meados da década de 1960, ficamos sabendo que o Gavião Negro original era um habitante da Terra 2 (um mundo paralelo, cuja linha de tempo é um pouco defasada em relação ao nosso universo), enquanto que Katar Hol vivia na Terra 1.  
No final da década de 1970, sobreveio a guerra Rann-Thanagar, e o casal thanagariano voltou ao seu planeta de origem para lutar contra seus inimigos. 
Em 1985, a DC tentou “organizar a casa”.  Seus inúmeros personagens, universos e histórias alternativas estavam praticamente impossíveis de acompanhar.  A série Crise nas Infinitas Terras surgiu para eliminar incompatibilidades, contradições, redundâncias e absurdos em geral.  As várias versões do planeta Terra foram fundidas numa única, mas isso criou ainda maiores confusões no caso do Gavião Negro.  Quem era ele, afinal de contas?  Acabou-se decidindo que o Carter Hall da Era de Ouro havia continuado na ativa. 
Na década de 1990, foi estabelecido que Carter Hall e Shiera vinham reencarnando desde o Antigo Egito, onde haviam encontrado o metal enésimo – que, por sua vez, veio de Thanagar.
A confusão não para por aí (acho eu...) mas já é o suficiente por enquanto.  Não vou nem falar das minisséries Hawkworld e Hora Zero, e das implicações das “Novas 52” sobre o personagem.

A DC lançou um encadernado bem interessante, com 688 páginas, reunindo as revistas HAWKMAN, #1-25 (maio de 2002 a abril de 2004), bem como material de JSA #56-58 e HAWKMAN SECRET FILES.  O roteiro é do prolífico Geoff Johns, um dos roteiristas mais importantes da editora nos últimos anos; e de James Robinson.  Entre os ilustradores, temos Rags Morales, Patrick Gleason e Ethan van Sciver.
Os comentários dos leitores na Amazon são negativos quanto à edição.  Muitos reclamam que o livro é colado, e não costurado, o que dificulta abrir amplamente o volume.  Outros reclamam que não há “extras” (esboços, entrevistas etc.)
O fato de o volume ser colado não me incomodou até agora.  Dá para abrir bem o livro, e as folhas não estão ameaçando cair.  A falta de extras é mesmo um pouco decepcionante, mas não prejudica a edição como um todo.

No geral, vale a pena.

Para maiores informações sobre toda a confusa história do Gavião Negro, recomendo que consultem o verbete em inglês da Wikipedia e a DC Comics Database, ambas inestimáveis na redação deste texto.

sábado, 6 de julho de 2013

Wally Wood - um favorito pessoal

Weird Science n°9
Setembro/outubro de 1951

Uma declaração do mestre ilustrador Al Williamson resume tudo o que eu gostaria de dizer sobre Wally Wood:

Eu conheci pessoas que adoravam o trabalho de Frazetta, pessoas que não gostavam de seu trabalho.  Eu conheci pessoas que adoravam o trabalho de Foster, eu conheci pessoas que não achavam que ele fosse tão bom.  O mesmo em relação ao trabalho de Raymond, o mesmo em relação a outras pessoas.  Acho que nunca conheci alguém que tenha dito que não gostava do trabalho de Wally Wood ou que ele não era tão bom assim.  Eu nunca ouvi isso - tudo o que eu já ouvi é que ele era ótimo.  Eu acho que ele era um dos poucos, senão o único, artista que eu conheço do qual você pode dizer isso.
(Citado em Wally Wood - Sketchbook, p.  112.  Tradução minha.)




Wallace "Wally" Wood teve uma carreira versátil: trabalhou nos tempos áureos da revista Mad; esteve na Marvel, onde desenhou alguns dos primeiros números de Demolidor, escritos por Stan Lee - inclusive o histórico n°7 (abril de 1964), onde o herói inaugurou o uniforme vermelho que se mantém até hoje.

Ilustrou diversas revistas clássicas da EC Comics, como Shock SuspenStories, Weird Science, Two-Fisted Tales e Tales from the Crypt, e as publicações similares da Warren: Eerie e Creepy.   Entre outras honrarias, teve seu nome lançado (postumamente) no Jack Kirby Hall of Fame e no Will Eisner Award Hall of Fame.  

O inigualável Frank Frazetta - possivelmente o maior ilustrador do Século XX - conheceu Wally e chegou a criar uma capa para a revista Famous Funnies em estilo "woodiano", numa declarada homenagem ao colega.
Homenagem de um mestre a outro.
Capa de Frank Frazetta no estilo de Wally Wood.
Famous Funnies n°213
Setembro de 1954




Wally era um grande sujeito, muito divertido.  Minha capa de Buck Rogers é típica de Wood... Uma homenagem.
(Frank Frazetta, citado em Wally Wood - Sketchbook, p.  87.  Tradução livre minha).







Wood tinha uma habilidade e uma criatividade extraordinárias para imaginar espaçonaves, equipamentos e criaturas alienígenas.  Quando eu penso em criar algum desenho num estilo de ficção científica "retrô", é nele que busco inspiração.  

Capa de Wally Wood para Weird Science n. 20
Julho/agosto de 1953


Os últimos anos de Wally não foram fáceis e incluíram crises de alcoolismo, depressão, problemas renais e um AVC que prejudicou a visão em um dos olhos.  Poucos dias depois de receber a notícia de que seus rins estavam trabalhando a apenas 10% de sua capacidade, Wally matou-se com um tiro.  Tinha apenas 54 anos.

Existe uma boa biografia de Wood: Wally's World - The brilliant life and tragic death of Wally Wood, the world's second-best comic book artist, de Steve Starger e J. David Spurlock.  
O subtítulo se refere ao artista como o "segundo melhor" do mundo, e o motivo é explicado na obra: existem vários fatores a considerar ao estabelecer um ranking - inclusive o gosto pessoal - mas  quase todo mundo concorda que Wally Wood merece estar entre os primeiros.  

Eu tenho um carinho especial pela obra de ficção científica desse grande artista.  Outros ilustradores talvez tivessem melhor técnica, ou seja lá o que for, mas Wally era simplesmente imbatível.