quarta-feira, 21 de agosto de 2013

The Walking Dead: os quadrinhos que deram origem à série de TV

Não é novidade que os quadrinhos de The Walking Dead estão entre os melhores lançamentos dos últimos anos, além de terem se transformado em fenômeno editorial. 
Com o lançamento da série de TV, a saga de Rick Grimes foi levada a uma plateia ainda maior.  Por sinal, os produtores do seriado foram brilhantes ao decidir fazer uma adaptação que não segue passo a passo a narrativa dos quadrinhos: assim, os leitores têm surpresas quando assistem aos episódios, e os telespectadores se surpreendem ao ler as revistas. Só lamento que muitas das pessoas que acompanham a versão televisiva não tenham se interessado em ler o material original.
De qualquer maneira, o interessante (em ambas as versões) é que os zumbis têm um papel secundário, pois o que é realmente importa é o drama humano: as relações entre os personagens e seu comportamento numa época de desespero.
Gosto muito dos textos de Kirkman e do trabalho da equipe de arte: Charlie Adlard (desenhos, arte-final e capas) e Cliff Rathburn (tons de cinza).   
Minha única crítica é que as histórias, por vezes, descambam para o que chamo de “pornografia da violência” – ou seja: longas sequências de violência, como a vingança de Michone contra o Governador (The Walking Dead n°33).  A meu ver, não havia necessidade de mostrar, passo a passo, a mutilação do sujeito.  Sequências assim se repetem ocasionalmente e me parecem uma tentativa de atrair leitores que precisam desse tipo de estímulo - mas isso não tira o mérito dessa excelente obra em quadrinhos.  Cada edição é impossível de largar antes do final.   
No Brasil, o leitor tem duas opções: os encadernados que reúnem diversos números, publicados com o título Os Mortos-Vivos; e as revistas mensais, que mantêm o nome em inglês (The Walking Dead).  Como as histórias têm sequência, o leitor deve começar, preferencialmente, da revista número 1 ou do primeiro encadernado, que reúne os primeiros números.



sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Quadrinhos que nos marcam


Algumas leituras nos marcam de verdade.  
Li "The Fury of Iron Fist!" quando tinha cerca de 10 anos, e a história me deixou perturbado. Infelizmente não tenho mais a revista, mas tenho a versão em inglês publicada em The Essential Iron Fist - um daqueles encadernados da Marvel com papel de jornal e centenas de páginas.    
Basicamente, é a origem do Punho de Ferro.  
Daniel Rand passou a juventude sendo educado e treinado na cidade mística de K'un-Lun, como também se deu com seu falecido pai.  Quando estava prestes a enfrentar o desafio final do treinamento, ele começa a refletir sobre sua vida.  A partir daí, a história fica alternando entre o presente e infância do personagem.  
Daniel, ainda criança, viaja com seu pai,  Wendell; sua mãe, Heather; e o amigo da família e sócio de seu pai, Harold Meachum.  O grupo caminhava por uma trilha inóspita e perigosa, cheia de neve, procurando K'un-Lun.  
As coisas começam a degringolar quando os quatro viajantes estão atravessando uma estreita ponte natural, coberta de gelo.  Daniel escorrega, arrastando sua mãe, que, por sua vez, arrasta Wendell.  O cabo que une o casal se rompe, de forma que o menino e a mãe caem numa saliência rochosa alguns metros abaixo, enquanto o pai fica pendurado pelas mãos na ponte. Essa página tem um quadro que eu nunca esqueci: Harold, usando botas de alpinismo cheias de travas pontudas, pisa com violência nas mãos de Wendell, fazendo-o cair no abismo.  Com isso, o falso amigo espera ficar com a empresa só para si, e confessa seu amor por Heather - que, naturalmente, não estava querendo muita conversa com o assassino do marido.  O vilão vai embora, deixando a dupla para trás, contando que certamente morreriam.  
Apesar da situação desfavorável, mãe e filho escalam o paredão gelado e chegam a uma planície - mas o sossego dura pouco.  A dupla é perseguida por lobos até uma ponte de madeira e cordas sobre outro abismo.  As feras estão quase os alcançando, quando Heather se joga aos lobos para dar chances ao filho.  O garoto, parado no meio da ponte, vê a mãe sendo devorada e tenta correr na direção dela, quando subitamente é agarrado por mãos fortes.  Os lobos são abatidos a flechadas, e Daniel é levado para K'un-Lun, onde começa seu treinamento.
Quando cheguei nesse ponto, já estava meio que anestesiado por tanto drama.  O resto da história nem me importava mais. 
Este é um daqueles momentos dos quadrinhos que nos marcam para sempre.  E não era para menos: o roteiro é do grande Roy Thomas (que escreveu muitas das melhores histórias de Conan).  Os desenhos são de Gil Kane, criador do visual do Lanterna Verde da Era de Prata (Hal Jordan), o qual se manteve mais ou menos parecido desde 1959 até hoje.  Kane foi um artista prolífico, tendo ilustrado Superman, Batman, Conan, Demolidor, Homem-Aranha e muitos outros. 
Showcase n°22 - Outubro de 1959
Primeira aparição do Lanterna Verde moderno.
Arte de Gil Kane
Esse foi o meu gibi marcante.  Não lembro de nenhum outro que tenha me deixado tão impressionado na infância, a ponto de fazer-me recordar certos quadros pelo resto da vida.  Isso é o resultado da combinação de um bom roteiro com bons desenhos (aliás, aproveito a oportunidade para fazer uma homenagem a Gil Kane, falecido em 2000, aos 73 anos).