terça-feira, 26 de novembro de 2013

52 Anos de Quarteto Fantástico


1961.  A chamada “corrida espacial” estava em andamento: americanos e russos (ou melhor: soviéticos) disputavam a supremacia em termos de realizações espaciais.  Foi o ano do voo histórico de Yuri Gagarin, que se tornou o primeiro homem a viajar pelo espaço.
É nesse contexto que foi lançada a importantíssima revista Fantastic Four n°1, que apresentou ao mundo quatro personagens que tentaram ser os primeiros seres humanos a chegar ao espaço.  Os heróis sabiam da necessidade de mais pesquisas sobre os misteriosos “raios cósmicos” antes do lançamento, mas queriam ter a certeza de chegar ao espaço antes dos commies (termo pejorativo usado para designar comunistas.  Algo como “comunas”, em português).
Ironicamente, a revista foi lançada em novembro de 1961.  O voo de Gagarin ocorreu em 12 de abril daquele ano.   Naturalmente, quando Stan Lee e Jack Kirby produziram a obra, ninguém tinha ainda chegado ao espaço, mas a publicação foi ultrapassada pelos fatos.  Na prática, isso não fez muita diferença: a revista revolucionou o modo de contar histórias de super-heróis.
A Marvel era ainda um nome novo no mercado.  Embora a empresa fosse fruto da Atlas Comics (que, por sua vez, vinha da Timely Comics, fundada em 1939), os primeiros títulos com a “marca” Marvel foram editados poucos meses antes (Journey into Mystery n°69 e Patsy Walker 95, ambos datados de junho).  Nada de extraordinário até então - mas, com a estreia do Quarteto Fantástico, iniciava-se uma nova era para os quadrinhos. 
Os heróis, longe de serem perfeitos, eram como gente de carne e osso, com traços pouco invejáveis: Sue mostra um lado manipulador ao chamar Ben de covarde para convencê-lo a embarcar no foguete; Ben, por sua vez, é grosseiro e irritável, e chega a agredir Reed fisicamente.   Além disso, os personagens fazem coisas que trazem consequências ruins: basta dizer que o calor das chamas de Johnny (o Tocha Humana) incendeia aviões de caça americanos, e que Ben causa um acidente de trânsito ao sair do subterrâneo no meio de uma rua.
Até mesmo o vilão – o Toupeira – tinha um lado bem humano: era um homem feio e patético que decidiu isolar-se da sociedade por ter sido desprezado e humilhado. 
A narrativa  era não –linear e pouco convencional: contém um longo flashback e eventos que acontecem simultaneamente.

Todos esse fatores contribuíram para fascinar o público e chamar a atenção para a Marvel, que começava a firmar as características de uma editora moderna, inovadora e diferente.  O nome Marvel tornou-se uma verdadeira grife no mundo editorial, como se fosse uma Lacoste dos quadrinhos.  Consolidando essa posição, a empresa lançou, no ano seguinte, personagens como o Hulk (que estreou em The Incredible Hulk n° 1, de maio de 1962), Thor (Journey into Mystery n° 83, de agosto de 1962) e o Homem-Aranha (Amazing Fantasy n°15, de agosto de 1962).  Muitos outros personagens se seguiram, mas foi com o Quarteto que surgiu um novo conceito em termos de super-heróis.

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Sopa de Letrinhas

Quase todo mundo já sabe que o genial Stan Lee gostava de criar personagens com iniciais repetidas.  Como ele próprio já explicou em diversas ocasiões, esse método facilitava seu trabalho porque, ao recordar um nome, ficava mais fácil lembrar do outro.  Essa repetição já foi tema de piadas no seriado The Big Bang Theory e não é nenhuma novidade.  De toda forma, achei que seria interessante listar alguns desses personagens - destacando que, em alguns, a repetição só ocorre em inglês, como no caso de Black Bolt.
Os nomes colocados entre aspas são apelidos, como “Pepper” (pimenta) Potts, a espevitada secretária de Tony Stark.

BETTY BRANT (do Clarim Diário)
BLACK BOLT / BLACKAGAR BOLTAGON (o Raio Negro do grupo dos Inumanos)
BRUCE BANNER (o Hulk)
CURT CONNORS (o Lagarto)
DUM DUM DUGAN (soldado que serviu sob as ordens de Nick Fury)
FANTASTIC FOUR (o Quarteto Fantástico)
FIN FANG FOOM (o monstro verde que apareceu primeiramente em Strange Tales #89 (outubro de 1961)
GREEN GOBLIN (o Duende Verde)
GREY GARGOYLE (o Gárgula Cinzento)
“HAPPY” HOGAN (assistente de Tony Stark)
J. JONAH JAMESON (diretor do Clarim Diário)
LIVING LASER (apresentado em Avengers n° 34, de novembro de 1966)
MATT MURDOCK (o Demolidor)
MOLTEN MAN (Magma: inimigo e, depois, amigo do Homem-Aranha)
OTTO OCTAVIUS (Dr. Octopus)
“PEPPER” POTTS (a secretária de Tony Stark)
PETER PARKER (o Homem-Aranha)
RANDY ROBERTSON  (filho do editor do Clarim Diário, Joseph “Robbie” Robertson”)  Apareceu primeiramente em The Amazing Spider-Man #67 (dezembro de 1968)
REED RICHARDS (o Sr. Fantástico)
SAMUEL “HAPPY SAM” SAWYER (assim como Dum Dum Dugan, Samuel Sawyer apareceu em Sgt. Fury and his Howling Commandos” n°1)
SCOTT SUMMERS (o Cíclope dos X-Men)
SILVER SURFER (o Surfista Prateado)
SINISTER SIX (o Sexteto Sinistro)
STEPHEN STRANGE (o Dr. Estranho)
SUSAN STORM (a Mulher Invisível)
WARREN WORTHINGTON III (o Anjo dos X-Men)

Alguns personagens até tinham outros nomes que fugiam à regra da repetição, mas esses nomes raramente eram mencionados: é o caso de Otto Gunther Octavius, Stephen Vincent Strange e Virginia “Pepper” Potts.

Stan Lee é um gênio que influenciou inúmeras vidas ao redor do mundo com seus personagens instigantes e profundamente humanos.  Nas décadas de 1960 e 1970, foi um verdadeiro diplomata dos quadrinhos, dando palestras em universidades e divulgando essa mídia para além das fronteiras usuais.
Mesmo aos 90 anos, continua cheio de energia: participa de convenções de quadrinhos; tem um canal no Youtube (Stan Lee's World of Heroes); aparece ocasionalmente em programas de TV (como Comic Book Men, de Kevin Smith, e The Big Bang Theory), além de fazer pequenas aparições nos filmes da Marvel.  Seu bom humor e sua empolgação com o trabalho são admiráveis.
Longa vida a Stan Lee, o mestre dos quadrinhos!

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

As Faces da Fúria

Maio de 1963: estreia de Nick Fury.
Quando comecei a acompanhar as aventuras de Nick Fury, ele tinha cabelo grisalho, tapa-olho, roupa colante, patente de coronel e viva na época atual.  Era, portanto, diferente do conceito original dos mestres Stan Lee e Jack Kirby. 
Em sua estreia na revista Sgt. Fury and His Howling Commandos (maio de 1963), o herói era um sargento em ação na Segunda Guerra Mundial.  Tinha cabelos castanhos, enxergava bem com os dois olhos e, naturalmente, vestia-se como um sargento comum.  A aventura inaugural é instigante e envolve o resgate de um chefe da Resistência Francesa capturado pelos nazistas.  Pode ser encontrada na excelente coleção Marvel Essential, que publica volumosas coletâneas de quadrinhos por um preço relativamente baixo (embora em preto e branco).


Edição da série "Marvel Essential".
Reúne os números 1 a 23 de Nick Fury and his Howling Commandos,
além da edição anual n°1

Com o tempo, o personagem foi se modificando até alcançar as características que ficaram tão familiares para os leitores da minha geração.  As mudanças têm início quando Fury sofre graves ferimentos ao final da guerra na Europa e recebe um medicamento experimental que, além de curá-lo, prolonga sua vida.  Com o passar do tempo, o herói vai trabalhar no Office of Strategic Services, e continua no mesmo órgão quando este se transforma na Central Inteligence Agency (CIA).  Devido ao sucesso de suas missões de espionagem na guerra da Coreia, o sargento recebe uma promoção de combate e torna-se tenente.  Com o tempo, chega a coronel e torna-se diretor da S.H.I.E.L.D. – a fictícia agência do Universo Marvel.  A sigla, em inglês, corresponde a Supreme Headquarters, International Espionage, Law-Enforcement Division, depois modificada para Strategic Hazard Intervention Espionage Logistics Directorate.
Quando a Marvel criou o universo Ultimate, com versões modernizadas de seus personagens mais famosos, Nick Fury recebeu uma revisão radical: em vez de um homem branco, grisalho e com a barba por fazer, surge um homem negro, calvo e de cavanhaque, inspirado na aparência do ator Samuel L. Jackson.  Essa versão, mais moderna e carismática, foi a escolhida para aparecer em diversos filmes da Marvel, interpretada pelo próprio Jackson, que fez uma discreta aparição depois dos créditos finais dos filmes Homem de Ferro (2008), Thor (2011) e Capitão América: O Primeiro Vingador (2011), além de ter participações maiores nos filmes Homem de Ferro 2 (2010) e Os Vingadores (2012).
Surgiu, então, um problema: os filmes poderiam atrair muitos leitores para as revistas Marvel, mas os novatos que comprassem as revistas da cronologia principal (que excluem o universo Ultimate) possivelmente iriam estranhar um Nick Fury tão diferente daquele do cinema.  Como fazer para unificar a aparência do personagem?
A solução foi criativa: surge o sargento Marcus Johnson, um Ranger do exército americano servindo no Afeganistão que, no final das contas, era Nicholas Fury Jr. – filho do "original", e com o mesmo visual do Nick Fury do cinema e do universo Ultimate.   O personagem é apresentado ao público na minissérie Battle Scars, lançada de janeiro a junho de 2012 nos Estados Unidos, e em janeiro de 2013, no Brasil, em volume único (Avante, Vingadores! 57).
É o caso do texto que inspira o filme que inspira o texto...

  

domingo, 8 de setembro de 2013

Uma sugestão para novatos no universo do Batman


A confusa cronologia das histórias em quadrinhos pode desanimar novos leitores.  São tantas reviravoltas no decorrer dos anos que fica difícil saber onde estamos pisando: personagens morrem e voltam, cidades são destruídas e reconstruídas e universos inteiros são reorganizados.
Além disso, é comum que as histórias façam constantes referências a fatos ocorridos em edições anteriores, ou até em outros títulos. Para complicar ainda mais, praticamente todas as histórias formam "arcos": longas sagas dividas em capítulos. Felizmente, as revistas incluem um resumo do que já aconteceu nos números anteriores, mas mesmo assim o leitor novato pode ficar com dúvidas
Por isso tudo, fiquei me perguntando: "se alguém quisesse começar a ler uma revista de super-heróis, qual seria a história ideal?" 
A meu ver, no caso do homem-morcego, essa história seria “Silêncio”. 
Trata-se de um arco publicado nos Estados Unidos de dezembro de 2002 a setembro de 2003 na revista Batman.  No Brasil, saiu de agosto de 2003 a julho de 2004 na revista Batman da editora Panini, e numa edição encadernada, em 2006.
O roteiro é do aclamado Jeff Loeb, de Batman: Dia das BruxasDemolidor: Amarelo, Hulk: Cinza e Homem-Aranha: Azul. A trama é bem construída e aproveita praticamente todos os elementos importantes da mitologia do Batman até aquele momento.  O elenco de personagens é enorme:  entre os vilões, temos Hera Venenosa, Crocodilo, Coringa, Charada, Duas-Caras, Arlequina, Ra's Al Ghul, Cara-de-Barro, Mulher-Gato e Espantalho.  Entre os heróis, Superman, Alan Scott (o Lanterna Verde da Era de Ouro) e até Krypto, o super-cão.
Os desenhos são do mega-astro Jim Lee – possivelmente um dos desenhistas mais famosos e influentes das últimas décadas.  Não sou grande fã de seu estilo (e sou minoria, provavelmente), mas ele fez um ótimo trabalho em Silêncio:  Gotham está mais sombria e chuvosa do que nunca, com becos escuros e dirigíveis ancorados em arranha-céus.
A arte-final é de Scott Williams, que já trabalhou em X-Men, Superman, Grandes Astros: Batman e Robin, entre outros.
Existem duas boas edições importadas: uma “normal”, e outra intitulada Hush: Unwrapped, que apresenta os desenhos a lápis de Jim Lee sem colorização e sem arte-final.  As únicas cores são dos textos ou dos efeitos sonoros.  A edição “normal” é muito mais bonita e permite uma maior imersão do leitor na história, mas é bastante interessante ler a Unwrapped num segundo momento.   






quarta-feira, 21 de agosto de 2013

The Walking Dead: os quadrinhos que deram origem à série de TV

Não é novidade que os quadrinhos de The Walking Dead estão entre os melhores lançamentos dos últimos anos, além de terem se transformado em fenômeno editorial. 
Com o lançamento da série de TV, a saga de Rick Grimes foi levada a uma plateia ainda maior.  Por sinal, os produtores do seriado foram brilhantes ao decidir fazer uma adaptação que não segue passo a passo a narrativa dos quadrinhos: assim, os leitores têm surpresas quando assistem aos episódios, e os telespectadores se surpreendem ao ler as revistas. Só lamento que muitas das pessoas que acompanham a versão televisiva não tenham se interessado em ler o material original.
De qualquer maneira, o interessante (em ambas as versões) é que os zumbis têm um papel secundário, pois o que é realmente importa é o drama humano: as relações entre os personagens e seu comportamento numa época de desespero.
Gosto muito dos textos de Kirkman e do trabalho da equipe de arte: Charlie Adlard (desenhos, arte-final e capas) e Cliff Rathburn (tons de cinza).   
Minha única crítica é que as histórias, por vezes, descambam para o que chamo de “pornografia da violência” – ou seja: longas sequências de violência, como a vingança de Michone contra o Governador (The Walking Dead n°33).  A meu ver, não havia necessidade de mostrar, passo a passo, a mutilação do sujeito.  Sequências assim se repetem ocasionalmente e me parecem uma tentativa de atrair leitores que precisam desse tipo de estímulo - mas isso não tira o mérito dessa excelente obra em quadrinhos.  Cada edição é impossível de largar antes do final.   
No Brasil, o leitor tem duas opções: os encadernados que reúnem diversos números, publicados com o título Os Mortos-Vivos; e as revistas mensais, que mantêm o nome em inglês (The Walking Dead).  Como as histórias têm sequência, o leitor deve começar, preferencialmente, da revista número 1 ou do primeiro encadernado, que reúne os primeiros números.



sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Quadrinhos que nos marcam


Algumas leituras nos marcam de verdade.  
Li "The Fury of Iron Fist!" quando tinha cerca de 10 anos, e a história me deixou perturbado. Infelizmente não tenho mais a revista, mas tenho a versão em inglês publicada em The Essential Iron Fist - um daqueles encadernados da Marvel com papel de jornal e centenas de páginas.    
Basicamente, é a origem do Punho de Ferro.  
Daniel Rand passou a juventude sendo educado e treinado na cidade mística de K'un-Lun, como também se deu com seu falecido pai.  Quando estava prestes a enfrentar o desafio final do treinamento, ele começa a refletir sobre sua vida.  A partir daí, a história fica alternando entre o presente e infância do personagem.  
Daniel, ainda criança, viaja com seu pai,  Wendell; sua mãe, Heather; e o amigo da família e sócio de seu pai, Harold Meachum.  O grupo caminhava por uma trilha inóspita e perigosa, cheia de neve, procurando K'un-Lun.  
As coisas começam a degringolar quando os quatro viajantes estão atravessando uma estreita ponte natural, coberta de gelo.  Daniel escorrega, arrastando sua mãe, que, por sua vez, arrasta Wendell.  O cabo que une o casal se rompe, de forma que o menino e a mãe caem numa saliência rochosa alguns metros abaixo, enquanto o pai fica pendurado pelas mãos na ponte. Essa página tem um quadro que eu nunca esqueci: Harold, usando botas de alpinismo cheias de travas pontudas, pisa com violência nas mãos de Wendell, fazendo-o cair no abismo.  Com isso, o falso amigo espera ficar com a empresa só para si, e confessa seu amor por Heather - que, naturalmente, não estava querendo muita conversa com o assassino do marido.  O vilão vai embora, deixando a dupla para trás, contando que certamente morreriam.  
Apesar da situação desfavorável, mãe e filho escalam o paredão gelado e chegam a uma planície - mas o sossego dura pouco.  A dupla é perseguida por lobos até uma ponte de madeira e cordas sobre outro abismo.  As feras estão quase os alcançando, quando Heather se joga aos lobos para dar chances ao filho.  O garoto, parado no meio da ponte, vê a mãe sendo devorada e tenta correr na direção dela, quando subitamente é agarrado por mãos fortes.  Os lobos são abatidos a flechadas, e Daniel é levado para K'un-Lun, onde começa seu treinamento.
Quando cheguei nesse ponto, já estava meio que anestesiado por tanto drama.  O resto da história nem me importava mais. 
Este é um daqueles momentos dos quadrinhos que nos marcam para sempre.  E não era para menos: o roteiro é do grande Roy Thomas (que escreveu muitas das melhores histórias de Conan).  Os desenhos são de Gil Kane, criador do visual do Lanterna Verde da Era de Prata (Hal Jordan), o qual se manteve mais ou menos parecido desde 1959 até hoje.  Kane foi um artista prolífico, tendo ilustrado Superman, Batman, Conan, Demolidor, Homem-Aranha e muitos outros. 
Showcase n°22 - Outubro de 1959
Primeira aparição do Lanterna Verde moderno.
Arte de Gil Kane
Esse foi o meu gibi marcante.  Não lembro de nenhum outro que tenha me deixado tão impressionado na infância, a ponto de fazer-me recordar certos quadros pelo resto da vida.  Isso é o resultado da combinação de um bom roteiro com bons desenhos (aliás, aproveito a oportunidade para fazer uma homenagem a Gil Kane, falecido em 2000, aos 73 anos).

sábado, 27 de julho de 2013

Depenando o Gavião Negro

O Gavião Negro (Hawkman) é um dos personagens de história mais confusa no universo DC.  O próprio nome dado ao herói no Brasil inspira confusão, já que se trata de um homem branco usando um uniforme verde, vermelho e dourado.
É um personagem que, em sua longa história, passou por diversos ilustradores, mas ficou muito vinculado ao traço de Joe Kubert (1926-2012), um dos grandes ícones dos quadrinhos e responsável pelo visual da segunda versão do herói.

Originalmente criado por Gardner Fox e Dennis Neville durante a chamada "Era de Ouro" dos quadrinhos, o Gavião Negro apareceu pela primeira vez na revista Flash Comics #1, de janeiro de 1940. 
A trama começa quando o arqueólogo Carter Hall (por acaso, uma reencarnação do príncipe egípcio Khufu) descobre o “metal enésimo”: uma substância com propriedades extraordinárias, incluindo a anulação dos efeitos da gravidade.  Com esse material, Hall criou um par de asas que prendia às costas com correias.  Para completar o figurino, utilizou armas antigas do museu onde trabalhava e tornou-se um combatente do crime.  Acabou tornando-se presidente da Sociedade de Justiça e permaneceu em atividade até o lançamento de All Star Comics #57 (março de 1951). 

Cerca de dez anos depois, o personagem foi reciclado em The Brave and the Bold # 34 (fevereiro/março de 1961) por Gardner Fox (o roteirista original) e o mestre ilustrador Joe Kubert.  Agora, o Gavião Negro era o alienígena Katar Hol, uma espécie de policial do planeta Thanagar.  Seus poderes (para não dizer seu nome) eram bem parecidos com os de Carter Hall.  O extraterrestre veio para nosso planeta com sua esposa Shayera, perseguindo um criminoso espacial, e acabaram ficando por aqui.  Como se a história não estivesse confusa o sucifiente, Katar Hol decide mudar de nome para Carter Hall, e sua esposa adota o nome de Shiera Hall. 
Em meados da década de 1960, ficamos sabendo que o Gavião Negro original era um habitante da Terra 2 (um mundo paralelo, cuja linha de tempo é um pouco defasada em relação ao nosso universo), enquanto que Katar Hol vivia na Terra 1.  
No final da década de 1970, sobreveio a guerra Rann-Thanagar, e o casal thanagariano voltou ao seu planeta de origem para lutar contra seus inimigos. 
Em 1985, a DC tentou “organizar a casa”.  Seus inúmeros personagens, universos e histórias alternativas estavam praticamente impossíveis de acompanhar.  A série Crise nas Infinitas Terras surgiu para eliminar incompatibilidades, contradições, redundâncias e absurdos em geral.  As várias versões do planeta Terra foram fundidas numa única, mas isso criou ainda maiores confusões no caso do Gavião Negro.  Quem era ele, afinal de contas?  Acabou-se decidindo que o Carter Hall da Era de Ouro havia continuado na ativa. 
Na década de 1990, foi estabelecido que Carter Hall e Shiera vinham reencarnando desde o Antigo Egito, onde haviam encontrado o metal enésimo – que, por sua vez, veio de Thanagar.
A confusão não para por aí (acho eu...) mas já é o suficiente por enquanto.  Não vou nem falar das minisséries Hawkworld e Hora Zero, e das implicações das “Novas 52” sobre o personagem.

A DC lançou um encadernado bem interessante, com 688 páginas, reunindo as revistas HAWKMAN, #1-25 (maio de 2002 a abril de 2004), bem como material de JSA #56-58 e HAWKMAN SECRET FILES.  O roteiro é do prolífico Geoff Johns, um dos roteiristas mais importantes da editora nos últimos anos; e de James Robinson.  Entre os ilustradores, temos Rags Morales, Patrick Gleason e Ethan van Sciver.
Os comentários dos leitores na Amazon são negativos quanto à edição.  Muitos reclamam que o livro é colado, e não costurado, o que dificulta abrir amplamente o volume.  Outros reclamam que não há “extras” (esboços, entrevistas etc.)
O fato de o volume ser colado não me incomodou até agora.  Dá para abrir bem o livro, e as folhas não estão ameaçando cair.  A falta de extras é mesmo um pouco decepcionante, mas não prejudica a edição como um todo.

No geral, vale a pena.

Para maiores informações sobre toda a confusa história do Gavião Negro, recomendo que consultem o verbete em inglês da Wikipedia e a DC Comics Database, ambas inestimáveis na redação deste texto.

sábado, 6 de julho de 2013

Wally Wood - um favorito pessoal

Weird Science n°9
Setembro/outubro de 1951

Uma declaração do mestre ilustrador Al Williamson resume tudo o que eu gostaria de dizer sobre Wally Wood:

Eu conheci pessoas que adoravam o trabalho de Frazetta, pessoas que não gostavam de seu trabalho.  Eu conheci pessoas que adoravam o trabalho de Foster, eu conheci pessoas que não achavam que ele fosse tão bom.  O mesmo em relação ao trabalho de Raymond, o mesmo em relação a outras pessoas.  Acho que nunca conheci alguém que tenha dito que não gostava do trabalho de Wally Wood ou que ele não era tão bom assim.  Eu nunca ouvi isso - tudo o que eu já ouvi é que ele era ótimo.  Eu acho que ele era um dos poucos, senão o único, artista que eu conheço do qual você pode dizer isso.
(Citado em Wally Wood - Sketchbook, p.  112.  Tradução minha.)




Wallace "Wally" Wood teve uma carreira versátil: trabalhou nos tempos áureos da revista Mad; esteve na Marvel, onde desenhou alguns dos primeiros números de Demolidor, escritos por Stan Lee - inclusive o histórico n°7 (abril de 1964), onde o herói inaugurou o uniforme vermelho que se mantém até hoje.

Ilustrou diversas revistas clássicas da EC Comics, como Shock SuspenStories, Weird Science, Two-Fisted Tales e Tales from the Crypt, e as publicações similares da Warren: Eerie e Creepy.   Entre outras honrarias, teve seu nome lançado (postumamente) no Jack Kirby Hall of Fame e no Will Eisner Award Hall of Fame.  

O inigualável Frank Frazetta - possivelmente o maior ilustrador do Século XX - conheceu Wally e chegou a criar uma capa para a revista Famous Funnies em estilo "woodiano", numa declarada homenagem ao colega.
Homenagem de um mestre a outro.
Capa de Frank Frazetta no estilo de Wally Wood.
Famous Funnies n°213
Setembro de 1954




Wally era um grande sujeito, muito divertido.  Minha capa de Buck Rogers é típica de Wood... Uma homenagem.
(Frank Frazetta, citado em Wally Wood - Sketchbook, p.  87.  Tradução livre minha).







Wood tinha uma habilidade e uma criatividade extraordinárias para imaginar espaçonaves, equipamentos e criaturas alienígenas.  Quando eu penso em criar algum desenho num estilo de ficção científica "retrô", é nele que busco inspiração.  

Capa de Wally Wood para Weird Science n. 20
Julho/agosto de 1953


Os últimos anos de Wally não foram fáceis e incluíram crises de alcoolismo, depressão, problemas renais e um AVC que prejudicou a visão em um dos olhos.  Poucos dias depois de receber a notícia de que seus rins estavam trabalhando a apenas 10% de sua capacidade, Wally matou-se com um tiro.  Tinha apenas 54 anos.

Existe uma boa biografia de Wood: Wally's World - The brilliant life and tragic death of Wally Wood, the world's second-best comic book artist, de Steve Starger e J. David Spurlock.  
O subtítulo se refere ao artista como o "segundo melhor" do mundo, e o motivo é explicado na obra: existem vários fatores a considerar ao estabelecer um ranking - inclusive o gosto pessoal - mas  quase todo mundo concorda que Wally Wood merece estar entre os primeiros.  

Eu tenho um carinho especial pela obra de ficção científica desse grande artista.  Outros ilustradores talvez tivessem melhor técnica, ou seja lá o que for, mas Wally era simplesmente imbatível.

sexta-feira, 7 de junho de 2013

As armaduras do Homem de Ferro

Tony Stark, sempre na vanguarda da tecnologia, não deixa sua armadura ficar desatualizada.
Cada fã tem sua armadura favorita, mas eu, como saudosista que sou, fico com as mais antigas.
Tentarei mostrar algumas das mais interessantes e importantes.
Esta foi onde tudo começou: a armadura cinzenta, construída por Stark e Ho Yinsen no cativeiro.

Tales of Suspense n. 39 
(Março de1963).
Essa armadura improvisada não podia mesmo durar muito, e foi substituída logo no número seguinte da revista por uma versão melhor e mais bonita: a armadura dourada.
Tales of Suspense n. 40
(Abril de 1963)
Os avanços tecnológicos são mesmo muito rápidos.  Em dezembro de 1963, Tony Stark muda novamente de armadura (a terceira naquele ano).  O novo modelo assume, em linhas gerais, as características que se mantêm até hoje:


Tales of Suspense n. 48
(Dezembro de 1963)
No ano seguinte, o cabeça-de-lata mudou seu capacete e inaugurou o visual que eu considero o "clássico".

Tales of Suspense n. 54
(Junho de 1964)


A partir daí, as mudanças foram mais sutis... ao menos até 1985, quando a revista Iron Man chega ao número 200 e surge a armadura vermelha e prateada (Mk VII), também conhecida como "Centurião Prateado".
Iron Man n. 200
(Novembro de 1985)

Não gostei muito dessa armadura, mas enfim...
Depois, surgiu a Mk. VIII, retomando o padrão vermelho e amarelo (ou vermelho e dourado, se preferirem).
Iron Man n. 231
(Junho de 1988).
Muitas outras armaduras foram utilizadas posteriormente, mas uma que chamou muito a atenção dos fãs é a Mk. XXX, de 2005,  que surgiu no arco de histórias "Extremis", escrito por Warren Ellis e ilustrado por Adi Granov.  Esse arco foi uma das maiores influências no roteiro do filme Homem de Ferro 3.
Iron Man n. 4
(Março de 2005)
Tony Stark estava gravemente ferido e precisou utilizar a fórmula Extremis para sobreviver.  Essa fórmula havia sido desenvolvida numa tentativa de criar super-soldados (como já havia ocorrido com o Capitão América), e causava modificações radicais no organismo.  Stark passou a ser capaz de  interagir com a armadura utilizando apenas o pensamento - inclusive para vesti-la sem precisar se mexer.  

Esse assunto poderia levar vários dias, abordando também outras armaduras: espacial, submarina, ártica, stealh, modular e a de telepresença neuromimética... mas isso fica para outra ocasião. 

terça-feira, 4 de junho de 2013

Caminhos da Reportagem

Hoje passei uma tarde muito agradável com a equipe do programa Caminhos da Reportagem, da TV Brasil.
Conversei com a repórter Tais Faccioli sobre quadrinhos e tive o prazer de mostrar minha coleção.
O programa será exibido no dia 18 de julho, quinta-feira, às 22h.  Eu falei sobre minha paixão sobre o tema e mostrei algumas "pérolas" do meu acervo.
O pessoal foi muito simpático e profissional.  Desejo sucesso ao programa.
Foto: PROGRAMA CAMINHOS DA REPORTAGEM.    
O programa sobre quadrinhos vai ser exibido no dia 18 de julho.  Tomara que eu não tenha falado muita bobagem...  Nesta foto: a repórter Tais Faccioli e a equipe da TV Brasil.

Commando

Seria uma grande injustiça falar em War Picture Library sem mencionar sua mais ilustre competidora: a revista Commando, criada em 1961 e publicada  até hoje (2013).  
Commando tem um escopo mais abrangente do que a War Picture Library, pois não se restringe à Segunda Guerra Mundial: abrange episódios da Primeira Guerra, bem como da Guerra Fria, da Coreia, Vietnã e outros conflitos.  
Em resumo: trata-se de um competidor que surgiu logo depois do "original" e fez mais sucesso - como aconteceu com Flash Gordon (que concorria com Buck Rogers).  

 

Infelizmente, essas publicações não são fáceis de se obter no Brasil, mas este ano serão lançadas (e, em alguns casos, relançadas) coleções de histórias que poderão ser obtidas em sites como o da Amazon.  Vejam algumas capas, todas extraídas de www.amazon.com:

    
    

Só nos resta aguardar, consultando os sites de vendas pela Internet.  Eu costumo usar o da Amazon, que presta ótimos serviços e nunca me deu problemas.

segunda-feira, 3 de junho de 2013

War Picture Library

Hoje em dia são raras as revistas em quadrinhos com uma temática específica, como horror, ficção científica ou mistério – ainda mais quando não há personagens fixos.
Uma das melhores e mais tradicionais revistas “temáticas” foi a inglesa War Picture Library (e suas subdivisões: Air Ace Picture Library, Battle Picture Library, War at Sea Picture Library e Action Picture Library).  O tema foi um que os britânicos conheceram de perto: a Segunda Guerra Mundial – a qual foi revivida e reinventada incontáveis vezes desde o lançamento do título, em 1958, até seu encerramento, em 1984. 
As capas eram um espetáculo à parte: pinturas realistas de grande qualidade.  Essas revistas embalaram os sonhos de mais de uma geração de entusiastas da Segunda Guerra Mundial e merecem destaque em qualquer coleção.
A revista teve um time internacional de colaboradores, onde se destaca o italiano Hugo Pratt (1927-1995), criador do personagem Corto Maltese.  Sua primeira história nessas publicações foi The Iron Fist, em War Picture Library n°25 (1960).  Antes disso, Pratt já havia publicado em outra revista do grupo, mas que não era especializada em guerra: Thriller Picture Library (a história foi Battler Britton, que saiu no n°297, de 1959).
Outros ilustradores incluem o argentino F. Solano Lopez (1928-2011), o espanhol Luis Bermejo (1931- ) e o alemão Kurt Caesar (1906-1974).
 
 

Algumas dessas revistas foram reeditadas recentemente em volumes encadernados bem "recheados", para alegria dos fãs (eu, inclusive).
Reedição de 2010 com 10 histórias e 656 páginas
extraídas de Air Ace Picture Library


sexta-feira, 31 de maio de 2013

A morte nos quadrinhos

Ela faz parte da existência.  Por menos que queiramos falar nela, não se pode fugir.
É verdade que a morte nos quadrinhos nem sempre é definitiva: muitos personagens morreram e depois voltaram.  Outros, não.  Seja como for, não se pode dizer que os cemitérios do mundo ficcional das revistas em quadrinhos estejam vazios.
Separei, aqui, alguns exemplos.

Um deles é a morte de Gwen Stacy, a namorada de Peter Parker, o Homem-Aranha.
O óbito ocorreu  em The Amazing Spider-Man #121 (junho de 1973).  Foi um momento chocante para os fãs e muito significativo para o personagem, dadas as condições da morte: o Duende Verde joga a moça do alto da Ponte do Brooklin e o Homem-Aranha dispara sua teia na perna de Gwen, detendo a queda.  Quando o herói traz a namorada  para perto de si, vê que ela está morta.  Não fica claro se a vítima foi assassinada pelo Duende Verde antes de ser jogada, ou se o impacto da desaceleração pela teia causou a morte.  De toda forma, há um "snap" significativo próximo à cabeça de Gwen no quadrinho em que a teia detém sua queda...

Dizem que desgraça atrai desgraça.  Foi o que ocorreu na minissérie Crise nas Infinitas Terras, onde morreram sucessivamente a Supergirl e Barry Allen, o segundo Flash.

Crisis on Infinite Earths – n° 7
(outubro de 1986)
Crisis on Infinite Earths – n° 8
(novembro de 1986)

A vida pode ser dura para os personagens de quadrinhos.  Jean Grey não morreu apenas uma, mas duas vezes: primeiro como Garota Marvel, transformando-se na Fênix em Uncanny X-Men 108 (dezembro de 1977).  Depois, em sua fase como a terrível Fênix Negra, Jean consegue recuperar momentaneamente seu lado bom e comete suicídio para o bem do universo (Uncanny X-Men 137, setembro de 1980).
Uncanny X-Men 108
Uncanny X-Men 137

Outro exemplo interessante é o de Jason Todd, o segundo Robin - mais um trauma na vida de Bruce Wayne.

Batman n°428 (dezembro de 1988). 

E as mortes não param:
O Capitão América.
Captain America, Vol. 5, n°25 
(abril de 2007)
Peter Parker, o primeiro Homem-Aranha no universo Ultimate.
Ultimate Spider-Man n°160 (agosto de 2011)

       
Até mesmo o maior dos maiores teve seu dia:

Superman - Vol. 2, n° 75
(janeiro de 1973
Enfim: da morte, ninguém escapa.

quinta-feira, 30 de maio de 2013

Heróis

C. G. Jung (1875-1961), o psiquiatra fundador da psicologia analítica, identificou certas formas encontradas na psique, existentes em todas as épocas e em todos os lugares.  A tese é de que o ser humano, como todo animal, possui uma "psique pré-formada" que vem desde o início da espécie, onde residem certas imagens primordiais que se manifestam em todas as épocas e em todo o mundo. Jung chamou essas formas de arquétipos.

A concepção de formas universais pré-existentes ao indivíduo e alheias a  qualquer interferência cultural remete-se ao idealismo kantiano e não é um ponto pacífico na comunidade científica.  Evitando entrar nessa discussão, James Hillman, inaugurador da Psicologia Arquetípica, procurou focalizar o aspecto fenomenológico concentrando-se nos padrões arquetípicos, e não propriamente em seu viés abstrato. Assim, buscava estuda-los na mitologia, na religião, na arte, nos mitos, sempre privilegiando a imaginação.

O arquétipo do herói é um dos mais cativantes, e é facilmente encontrado nas mais diversas culturas - desde os gregos, como Aquiles e Ulisses, até os tempos atuais.  Como exemplos na cultura anglo-saxônica, temos o Rei Arthur, Indiana Jones, James Bond, e tantos outros.  Os arquétipos muitas vezes "aderem" a pessoas reais, como Neil Armstrong (o primeiro homem a pisar na Lua).  Essas pessoas passam a corporificar o ideal heroico que existe desde tempos imemoriais.

As revistas em quadrinhos de super-heróis exploram bem esse padrão arquetípico, oferecendo ao público personagens que os leitores possam admirar e que satisfaçam essa propensão ao culto do herói.  De certa forma, Superman, Batman e o Lanterna Verde são descentes de Ulisses, Aquiles e Teseu.

Texto também disponível no meu blog Doctor Mirabilis - O Mundo Segundo Fredhttp://doctormirabilis.blogspot.com.br/

Milton Caniff, o Rembrandt dos Quadrinhos

O grande Milton Caniff (1907-1988), que entrou para a posteridade como o "Rembrandt dos Quadrinhos", é bem lembrado pelos leitores brasileiros como o criador das tirinhas de jornal de Steve Canyon.  Infelizmente, pouco se fala no Brasil sobre a série que o tornou famoso: Terry and the Pirates, que desenhou e escreveu de 1934 a 1946. 
No princípio, o protagonista Terry Lee era um garoto que chegou à China acompanhando o jornalista aventureiro Pat Ryan em busca de uma mina de ouro.  Com o desenrolar da história, a dupla passa por muitas aventuras e encontra novos personagens.  A narrativa acompanha o crescimento de Terry - algo raro nos quadrinhos - e, em 1943, o rapaz, já adulto, torna-se piloto de caça da Força Aérea do Exército americano (na época, ainda não havia uma Força Aérea independente nos Estados Unidos: a arma integrava o Exército).
A série fez grande sucesso e Caniff foi desenvolvendo sua técnica cada vez mais.  Contudo, os direitos autorais não lhe pertenciam.  Assim, em 1946, Milton abandonou a série (que, apesar disso, continuou a circular, escrita e ilustrada por outros) e, no ano seguinte, criou Steve Canyon – personagem que foi bastante popular no Brasil.  
Os personagens têm suas semelhanças: tanto Terry quanto Steve eram pilotos, e ambos estiveram em combate no oriente (Terry na Segunda Guerra Mundial, e Steve, na Guerra da Coreia).  Canyon tornou-se tão famoso que recebeu uma estátua no mundo real (em Idaho Springs, no Colorado).
Um leitor atual pode estranhar o estilo das tirinhas de Milton Caniff, que empalidecem perto de uma pagina atual da Marvel ou da D.C. Comics.  Além disso, há os estereótipos étnicos tão comuns nos meios de comunicação daquela época - como é o caso do chinês Connie, que fala de si mesmo na terceira pessoa.  Mas com um pouco de reflexão, percebe-se um traço verdadeiramente artístico e pessoal, além de um grande talento para narrativa.  Afinal, ninguém é comparado a Rembrandt por acaso.
A IDW lançou um belíssimo volume celebrando a carreira de Caniff, e vale a pena ser consultado.  A produção editoral é de primeira qualidade, como geralmente ocorre com essa editora.


Tanto Terry quanto Steve Canyon estão bem representados em edições contemporâneas da IDW (sempre excelente) - sendo que Canyon também foi lançado numa boa edição pela Hermes.
Edição Hermes
Edição IDW

The Complete Terry and the Pirates - Vol. 2