1961. A chamada
“corrida espacial” estava em andamento: americanos e russos (ou melhor:
soviéticos) disputavam a supremacia em termos de realizações espaciais. Foi o ano do voo histórico de Yuri Gagarin,
que se tornou o primeiro homem a viajar pelo espaço.
É nesse contexto que foi lançada a importantíssima revista Fantastic Four n°1, que apresentou ao
mundo quatro personagens que tentaram ser os primeiros seres humanos a chegar
ao espaço. Os heróis sabiam da
necessidade de mais pesquisas sobre os misteriosos “raios cósmicos” antes do
lançamento, mas queriam ter a certeza de chegar ao espaço antes dos commies (termo pejorativo usado para
designar comunistas. Algo como
“comunas”, em português).
Ironicamente, a revista foi lançada em novembro de 1961. O voo de Gagarin ocorreu em 12 de abril
daquele ano. Naturalmente, quando Stan
Lee e Jack Kirby produziram a obra, ninguém tinha ainda chegado ao espaço, mas a
publicação foi ultrapassada pelos fatos.
Na prática, isso não fez muita diferença: a revista revolucionou o modo
de contar histórias de super-heróis.
A Marvel era ainda um nome novo no mercado. Embora a empresa fosse fruto da Atlas Comics
(que, por sua vez, vinha da Timely Comics, fundada em 1939), os primeiros
títulos com a “marca” Marvel foram editados poucos meses antes (Journey into Mystery n°69 e Patsy
Walker n° 95,
ambos datados de junho). Nada de extraordinário até então - mas, com a
estreia do Quarteto Fantástico, iniciava-se uma nova era para os quadrinhos.
Os heróis, longe de serem perfeitos, eram como gente de
carne e osso, com traços pouco invejáveis: Sue mostra um lado manipulador ao
chamar Ben de covarde para convencê-lo a embarcar no foguete; Ben, por sua vez,
é grosseiro e irritável, e chega a agredir Reed fisicamente. Além disso, os personagens fazem coisas que
trazem consequências ruins: basta dizer que o calor das chamas de Johnny (o
Tocha Humana) incendeia aviões de caça americanos, e que Ben causa um acidente
de trânsito ao sair do subterrâneo no meio de uma rua.
Até mesmo o vilão – o Toupeira – tinha um lado bem humano:
era um homem feio e patético que decidiu isolar-se da sociedade por ter sido
desprezado e humilhado.
A narrativa era não
–linear e pouco convencional: contém um longo flashback e eventos que acontecem simultaneamente.
Todos esse fatores contribuíram para fascinar o público e chamar
a atenção para a Marvel, que começava a firmar as características de uma editora
moderna, inovadora e diferente. O nome
Marvel tornou-se uma verdadeira grife no mundo editorial, como se fosse uma
Lacoste dos quadrinhos. Consolidando
essa posição, a empresa lançou, no ano seguinte, personagens como o Hulk (que
estreou em The Incredible Hulk n° 1, de maio de 1962), Thor (Journey into Mystery n° 83, de agosto de 1962)
e o Homem-Aranha (Amazing Fantasy n°15,
de agosto de 1962). Muitos outros
personagens se seguiram, mas foi com o Quarteto que surgiu um novo conceito em
termos de super-heróis.
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