sexta-feira, 31 de maio de 2013

A morte nos quadrinhos

Ela faz parte da existência.  Por menos que queiramos falar nela, não se pode fugir.
É verdade que a morte nos quadrinhos nem sempre é definitiva: muitos personagens morreram e depois voltaram.  Outros, não.  Seja como for, não se pode dizer que os cemitérios do mundo ficcional das revistas em quadrinhos estejam vazios.
Separei, aqui, alguns exemplos.

Um deles é a morte de Gwen Stacy, a namorada de Peter Parker, o Homem-Aranha.
O óbito ocorreu  em The Amazing Spider-Man #121 (junho de 1973).  Foi um momento chocante para os fãs e muito significativo para o personagem, dadas as condições da morte: o Duende Verde joga a moça do alto da Ponte do Brooklin e o Homem-Aranha dispara sua teia na perna de Gwen, detendo a queda.  Quando o herói traz a namorada  para perto de si, vê que ela está morta.  Não fica claro se a vítima foi assassinada pelo Duende Verde antes de ser jogada, ou se o impacto da desaceleração pela teia causou a morte.  De toda forma, há um "snap" significativo próximo à cabeça de Gwen no quadrinho em que a teia detém sua queda...

Dizem que desgraça atrai desgraça.  Foi o que ocorreu na minissérie Crise nas Infinitas Terras, onde morreram sucessivamente a Supergirl e Barry Allen, o segundo Flash.

Crisis on Infinite Earths – n° 7
(outubro de 1986)
Crisis on Infinite Earths – n° 8
(novembro de 1986)

A vida pode ser dura para os personagens de quadrinhos.  Jean Grey não morreu apenas uma, mas duas vezes: primeiro como Garota Marvel, transformando-se na Fênix em Uncanny X-Men 108 (dezembro de 1977).  Depois, em sua fase como a terrível Fênix Negra, Jean consegue recuperar momentaneamente seu lado bom e comete suicídio para o bem do universo (Uncanny X-Men 137, setembro de 1980).
Uncanny X-Men 108
Uncanny X-Men 137

Outro exemplo interessante é o de Jason Todd, o segundo Robin - mais um trauma na vida de Bruce Wayne.

Batman n°428 (dezembro de 1988). 

E as mortes não param:
O Capitão América.
Captain America, Vol. 5, n°25 
(abril de 2007)
Peter Parker, o primeiro Homem-Aranha no universo Ultimate.
Ultimate Spider-Man n°160 (agosto de 2011)

       
Até mesmo o maior dos maiores teve seu dia:

Superman - Vol. 2, n° 75
(janeiro de 1973
Enfim: da morte, ninguém escapa.

quinta-feira, 30 de maio de 2013

Heróis

C. G. Jung (1875-1961), o psiquiatra fundador da psicologia analítica, identificou certas formas encontradas na psique, existentes em todas as épocas e em todos os lugares.  A tese é de que o ser humano, como todo animal, possui uma "psique pré-formada" que vem desde o início da espécie, onde residem certas imagens primordiais que se manifestam em todas as épocas e em todo o mundo. Jung chamou essas formas de arquétipos.

A concepção de formas universais pré-existentes ao indivíduo e alheias a  qualquer interferência cultural remete-se ao idealismo kantiano e não é um ponto pacífico na comunidade científica.  Evitando entrar nessa discussão, James Hillman, inaugurador da Psicologia Arquetípica, procurou focalizar o aspecto fenomenológico concentrando-se nos padrões arquetípicos, e não propriamente em seu viés abstrato. Assim, buscava estuda-los na mitologia, na religião, na arte, nos mitos, sempre privilegiando a imaginação.

O arquétipo do herói é um dos mais cativantes, e é facilmente encontrado nas mais diversas culturas - desde os gregos, como Aquiles e Ulisses, até os tempos atuais.  Como exemplos na cultura anglo-saxônica, temos o Rei Arthur, Indiana Jones, James Bond, e tantos outros.  Os arquétipos muitas vezes "aderem" a pessoas reais, como Neil Armstrong (o primeiro homem a pisar na Lua).  Essas pessoas passam a corporificar o ideal heroico que existe desde tempos imemoriais.

As revistas em quadrinhos de super-heróis exploram bem esse padrão arquetípico, oferecendo ao público personagens que os leitores possam admirar e que satisfaçam essa propensão ao culto do herói.  De certa forma, Superman, Batman e o Lanterna Verde são descentes de Ulisses, Aquiles e Teseu.

Texto também disponível no meu blog Doctor Mirabilis - O Mundo Segundo Fredhttp://doctormirabilis.blogspot.com.br/

Milton Caniff, o Rembrandt dos Quadrinhos

O grande Milton Caniff (1907-1988), que entrou para a posteridade como o "Rembrandt dos Quadrinhos", é bem lembrado pelos leitores brasileiros como o criador das tirinhas de jornal de Steve Canyon.  Infelizmente, pouco se fala no Brasil sobre a série que o tornou famoso: Terry and the Pirates, que desenhou e escreveu de 1934 a 1946. 
No princípio, o protagonista Terry Lee era um garoto que chegou à China acompanhando o jornalista aventureiro Pat Ryan em busca de uma mina de ouro.  Com o desenrolar da história, a dupla passa por muitas aventuras e encontra novos personagens.  A narrativa acompanha o crescimento de Terry - algo raro nos quadrinhos - e, em 1943, o rapaz, já adulto, torna-se piloto de caça da Força Aérea do Exército americano (na época, ainda não havia uma Força Aérea independente nos Estados Unidos: a arma integrava o Exército).
A série fez grande sucesso e Caniff foi desenvolvendo sua técnica cada vez mais.  Contudo, os direitos autorais não lhe pertenciam.  Assim, em 1946, Milton abandonou a série (que, apesar disso, continuou a circular, escrita e ilustrada por outros) e, no ano seguinte, criou Steve Canyon – personagem que foi bastante popular no Brasil.  
Os personagens têm suas semelhanças: tanto Terry quanto Steve eram pilotos, e ambos estiveram em combate no oriente (Terry na Segunda Guerra Mundial, e Steve, na Guerra da Coreia).  Canyon tornou-se tão famoso que recebeu uma estátua no mundo real (em Idaho Springs, no Colorado).
Um leitor atual pode estranhar o estilo das tirinhas de Milton Caniff, que empalidecem perto de uma pagina atual da Marvel ou da D.C. Comics.  Além disso, há os estereótipos étnicos tão comuns nos meios de comunicação daquela época - como é o caso do chinês Connie, que fala de si mesmo na terceira pessoa.  Mas com um pouco de reflexão, percebe-se um traço verdadeiramente artístico e pessoal, além de um grande talento para narrativa.  Afinal, ninguém é comparado a Rembrandt por acaso.
A IDW lançou um belíssimo volume celebrando a carreira de Caniff, e vale a pena ser consultado.  A produção editoral é de primeira qualidade, como geralmente ocorre com essa editora.


Tanto Terry quanto Steve Canyon estão bem representados em edições contemporâneas da IDW (sempre excelente) - sendo que Canyon também foi lançado numa boa edição pela Hermes.
Edição Hermes
Edição IDW

The Complete Terry and the Pirates - Vol. 2

Alex Raymond


Quando comecei a desenhar, tudo o que eu queria era imitar Alex Raymond (1909-1956), o genial criador de Flash Gordon, Jim das Selvas e Rip Kirby (conhecido no Brasil como Nick Holmes).  Para mim, Raymond é o Caravaggio dos quadrinhos: sempre achei que ele era o herdeiro dos grandes mestres do Barroco.  Não só sua técnica era admirável, mas sua imaginação era fora de série.
Felizmente sua obra vem sendo resgatada em boas edições:  Flash Gordon ganhou uma nova coleção pela Titan Books, que pretende ser a "definitiva".


Outra edição disponível é aquela da IDW - uma das melhoras casas do ramo - que tem o atrativo adicional de incluir as histórias de Jim das Selvas.



Rip Kirby também está sendo lançado pela IDW com a alta qualidade característica dessa editora: capa dura, ensaios, fotos e excelente impressão.


Com isso, o legado de Alex Raymond fica assegurado para as novas gerações - ao menos para os leitores que entendem inglês e possam pagar o preço salgado (mas justo) desses títulos.