terça-feira, 24 de junho de 2014

BATMANGÁ


Em 1966, foi lançada a série de TV Batman, com Adam West e Burt Ward.  As crianças adoraram, enquanto que alguns fãs mais velhos do personagem ficaram revoltados com o tratamento cômico dado ao seu herói.  Hoje, o antigo seriado é um clássico, amado de forma quase unânime.
O lançamento de Batman na TV detonou uma onda de batmania.  Falava-se que era a época dos três “B”s: Bond (007), Beatles e Batman. Enquanto os quadrinhos originais eram traduzidos em diversos países, o Japão foi mais longe: obteve uma licença para produzir histórias originais, escritas em desenhadas especialmente para o público japonês.   Os quadrinhos foram publicados de abril de 1966 a Maio de 1967 na revista Shōnen King, com roteiro e arte de Jiro Kuwata.  O assunto ficou esquecido desde então.
Décadas depois, o designer e escritor Chipp Kidd conheceu o colecionador Saul Ferris, que possui uma grande coleção de objetos do Batman não produzidos nos EUA, incluindo os mangás de Jiro Kuwata.  Vendo aquele material inusitado, Kidd consultou a DC Comics a respeito da possibilidade de lançá-lo em livro.  A editora nem tinha mais registros do licenciamento para o Japão, mas autorizou o lançamento. 
A produção do livro é bem interessante: os mangás são apresentados com resolução fotográfica, mostrando a cor e a textura originais.  Além disso, há fotos de vários objetos de Batman produzidos no Japão – todos da coleção de Saul Ferris – tais como bonecos, máscaras e veículos.    
Os desenhos de Jiro Kuwata não são no estilo tipicamente associado ao mangá, mas também não são no estilo ocidental: consistem em um cruzamento de estéticas e referências.
Só nos resta agradecer a Chipp Kidd, pela iniciativa e pelo design; a Geoff Spear, pelas fotografias; e a Saul Ferris, por seu zelo de colecionador.  
O meu exemplar já está aqui, na minha biblioteca.

sexta-feira, 20 de junho de 2014

Flash, o Gordon

No início da década de 1930, nos EUA, os quadrinhos eram publicados apenas em jornais.  Não havia, ainda, gibis.  Estes começaram em 1933, e não traziam material inédito: apenas compilavam tirinhas que já haviam sido publicadas. 
Flash Gordon foi lançado nos jornais em 1/7/1934 (um domingo) e era espetacular: os desenhos de Alex Raymond eram primorosos e elegantes; os personagens pareciam humanos, os cenários alienígenas eram criativos, e os equipamentos de estilo futurista pareciam ser capazes de funcionar de verdade.    Raymond continuou escrevendo e desenhando as histórias até 1943 e, a partir de então, o título saiu de suas mãos, vindo a ser transferido sucessivas vezes para diversos artistas: Austin Briggs, Mac Raboy, Dan Barry, Harry Harrison e muitos outros.
Desde 1936, a revista King Comics já vinha republicando o material que saíra nos jornais, e  várias outras editoras fizeram o mesmo, sempre com material repetido.  Foi só em 1/9/1966 que saiu algo inédito: a Flash Gordon n° 1, ilustrada pelo genial Al Williamson (que depois fez a capa da n°3 e ilustrou os n°s 4 e 5).  Essa revista é, possivelmente, uma das mais legais do mundo (faltam-me palavras), e Williamson foi, na minha opinião, o único artista capaz de chegar à altura de Alex Raymond com esse personagem.
Em 2009, foi lançado um livro intitulado Al Williamson's Flash Gordon: A Lifelong Vision of the Heroic, documentando o fascínio de Williamson pelo personagem.  Atualmente, a edição está esgotada, mas vale a pena ser procurada em sebos pela Internet. 
Em 2010, a famosa editora Dark Horse lançou uma edição encadernada dos gibis de Flash Gordon desenhados por Al Williamson: é o segundo volume de uma série dedicada ao personagem, e a qualidade de impressão é muito boa.  É a melhor coisa na falta dos originais, que devem ser caríssimos e difíceis de encontrar.   


    

terça-feira, 17 de junho de 2014

O Melhor Gibi do Mundo

Os colecionadores são uma espécie bem interessante e cheia de manias.  No campo da música, discutem quais seriam os melhores discos de todos os tempos: o melhor saxofonista, a melhor cantora, a melhor primeira faixa...  No campo dos quadrinhos, discutem-se os melhores gibis.  Mas o que seriam “os melhores”?  Se pensarmos nos mais importantes para a história da mídia dos quadrinhos, poderíamos falar na Action Comics n°1 (junho de 1938), que contém a primeira aparição do Superman e, de certa forma, foi a “mãe” de todas as revistas de super-heróis.  Sem o surgimento e o sucesso desse personagem, o panorama dos quadrinhos poderia ter sido diferente.  Uma muito marcante foi a Amazing Fantasy n°15 (agosto de 1962), com a primeira aparição do Homem-Aranha. 
 
A minissérie Watchmen, de Alan Moore e Dave Gibbons, publicada em 12 edições entre 1986 e 1987, traz duas gerações de personagens complexos envolvidos numa trama complicada (e repleta de enredos secundários), ambientada numa história alternativa do mundo onde os EUA haviam vencido a Guerra do Vietnã e era iminente uma guerra nuclear global.  Watchmen foi a obra definitiva que transformou os quadrinhos em divertimento para adultos.
Mais ou menos na mesma época, saiu outra minissérie que redefiniu a forma de pensar em super-heróis: O Cavaleiro das Trevas (The Dark Knight Returns), de Frank Miller, publicada de fevereiro a junho de 1986.  Batman, mais velho e afastado do combate ao crime, decide voltar à ação.  É uma obra-prima dos quadrinhos, que continua sempre atual e merece ser lida várias vezes.

Um bom critério para selecionar uma revista como relevante é verificar se a publicação reúne elementos importantes de um personagem e serve como apresentação a novos leitores.  Eu gosto muito de Batman n° 251 (Setembro, 1970), que pode ser encontrada no Volume 3 da compilação “Batman ilustrated by Neal Adams”, que reúne os trabalhos desse grande desenhista em sua passagem pelos títulos do morcego.  O n°251 reúne uma capa icônica, um inimigo clássico (o Coringa), e o tradicional elemento de “herói preso numa armadilha”.  Além de tudo, mostra que Batman não é infalível.  Embora a história seja um pouco ingênua para os padrões atuais, contém todos os elementos de um clássico dos quadrinhos.


Ficam aqui algumas dicas para os iniciantes.  Todo esse material é bastante fácil de se conseguir pela Internet, em sebos e lojas de quadrinhos. 

quinta-feira, 5 de junho de 2014

Homem Comum, Homem Aranha


O apelo do Homem-Aranha sobre o público jovem parece eterno.  Desde seu primeiro aparecimento na revista  Amazing Fantasy n°15 (agosto de 1962), a criação de Stan Lee (roteiro) e Steve Ditko (desenhos)  cativou os corações dos leitores – e é fácil de entender por que.  Peter Parker, o personagem principal, era um jovem estudante magro e inseguro, cheio de problemas, que admirava as garotas à distância e sofria zombarias dos valentões da escola.  Depois de um acidente com radiação, ele adquire poderes sobre-humanos e, no princípio, decide utilizá-los apenas em benefício próprio, até que uma grande tragédia faz com que ele tome contato com suas responsabilidades - daí a icônica frase, decorada por todos os fãs: “com grandes poderes vêm grandes responsabilidades”.
O personagem, portanto, não era um cientista, um agente secreto, um astronauta ou um policial, mas apenas um garoto comum – o que facilitou a identificação com o público.  Além disso, ao contrário de outros heróis, a máscara do Homem-Aranha cobria o rosto todo, de modo que qualquer jovem, independendo de sua origem étnica, poderia se ver naquele uniforme.  Numa época de considerável segregação racial, seria difícil que um rapaz negro se identificasse com o louro Thor, mas todos poderiam se ver com o traje enigmático de Peter Parker.    
Além de tudo, Peter precisava se preocupar com sua Tia May, uma senhora já bem idosa, com diversos problemas de saúde.  Em várias ocasiões, o herói precisava conciliar sua vida de estudante, sobrinho, namorado e fotógrafo com suas atividades de combate ao crime.
Muitos jovens tímidos e inseguros gostariam de ter um poder secreto: algo que compensasse as frustrações do cotidiano e a falta de amigos na escola.  Certamente, seria fascinante pensar: “vocês podem achar que não sou ninguém, mas eu sei que sou importante.”  O irônico é que todos nós somos importantes, de um jeito ou de outro.  E, além disso, todos temos alguma habilidade, algum talento, mesmo que não o tenhamos descoberto.  É possível que, dentro de cada garoto tímido exista o potencial para o surgimento de um cientista, um músico, um atleta, um pai carinhoso.

E você, leitor?  Já descobriu o seu “poder” ?   
A primeira aparição do Homem-Aranha.
Amazing Fantasy n°15 (agosto de 1962)
Capa de Jack Kirby (desenho) e Steve Ditko (arte-final).


Este texto será publicado, em breve, na minha coluna no portal Por Dentro da Mídia.